Construção de ferrovias é imprescindível para o futuro do grande oeste de SC, conclui Simpósio da Integração Logística do Sul

Debate ocorreu no primeiro dia da Mercoagro, nesta terça-feira (12), em Chapecó

Público acompanhou as palestras com atenção (Foto: MB Comunicação).

Investimentos em ferrovias são necessários para assegurar o futuro do grande oeste catarinense e do sul do Brasil e, em especial, para manter a competitividade internacional do grande parque agroindustrial dos três estados sulinos. Essa é uma das conclusões do recém-encerrado, nesta terça-feira (12), Simpósio da Integração Logística do Sul. O evento ocorreu paralelamente à Feira Internacional de Negócios, Processamento e Industrialização da Carne (Mercoagro), realizada pela Associação Comercial e Industrial de Chapecó (ACIC) e que ocorre no Parque de Exposições Tancredo Neves, em Chapecó (SC), até sexta-feira (15). A organização foi das entidades que integram o Movimento Pró-Ferrovias – ABPA, ACIC, CEC, FACISC, FAESC, FIESC, OCESC E SINDICARNE/ACAV.

            Os debates iniciaram com apresentação sobre o tema “O Agronegócio e a Estrutura Logística de Grãos”, com o diretor executivo da Associação Catarinense de Avicultura (ACAV) e do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne), Jorge Luiz de Lima, e com o diretor de Commodities e Logística da ABPA e diretor de Commodities e Logística da Seara Alimentos, Arene Trevisan.

            Lima destacou alguns números que envolvem a produção de aves e suínos em Santa Catarina. O setor gera mais de 60 mil empregos diretos e mais de 480 mil postos de trabalho indiretos, abate mais de 4 mil aves por dia e mais de 34 mil suínos diariamente. São mais de 19 mil famílias integradas às agroindústrias. O segmento é responsável por 70% do volume de exportações do estado e representa 31% do PIB de SC.

O setor gera movimento econômico de mais de R$ 7 bilhões. “Santa Catarina é o segundo maior produtor e o segundo maior exportador de aves do Brasil e, na produção e exportação de suínos, é o primeiro produtor e o primeiro exportador”, salientou Lima. A operação das agroindústrias de aves e suínos exige 5.240 viagens diárias de veículos de carga e a movimentação de 344 containers por dia, o que equivale a 90.000 containers por ano. 

            Jorge Luiz de Lima falou de gargalos rodoviários para a logística dessa produção, entre eles falta de manutenção das rodovias. Os setores a serem impactados positivamente com a construção de ferrovias são o metalmecânico, têxtil, plástico, biocombustível, portuário e aeroportuário, bens de capital, madeira bruta e móveis acabados, além da agroindústria.

            Trevisan explanou sobre a produção de soja e milho no país e o desafio logístico para assegurar a competitividade e a geração de emprego e renda. Comentou que a produção de grãos se deslocou do sul para o centro-oeste nos últimos 20 anos e que o deslocamento entre a produção e o consumo de cereais coloca em risco o setor de transformação no sul do Brasil – daí a importância das ferrovias.

            Para Trevisan, o Brasil ganhou protagonismo no mercado global de commodities agrícolas, o centro-oeste foi o grande motor do aumento da produção brasileira de grãos e o sul continua sendo o grande motor na produção de proteína animal. A infraestrutura logística existente priorizou as exportações, isso segundo Trevisan, salientou que é urgente a necessidade de buscar um modal logístico mais competitivo para abastecer o mercado doméstico.

Pode ser uma imagem de 10 pessoas, iluminação e tablado

Ao término do Simpósio, foi entregue aos representantes dos estados do Rio

Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e de Santa Catarina a Carta

Movimento Pró-Ferrovias (Foto: MB Comunicação).

 

            OBRAS

O diretor de Planejamento e Pesquisa do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Luiz Guilherme Rodrigues Mello, apresentou brevemente o Plano Nacional de Logística (PNL), o conjunto de obras previstas para Santa Catarina no âmbito do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e os principais projetos e obras de manutenção que estão sendo desenvolvidos no estado. Ele explicou como o PNL é elaborado e de que forma esse estudo técnico identifica as necessidades de cada região, para que o Ministério dos Transportes conheça os gargalos e desenvolva projetos pensando em soluções de infraestrutura a longo prazo.

Entre os projetos rodoviários que estão em desenvolvimento ou em fase de planejamento em Santa Catarina, Mello destacou a duplicação da BR-282, entre Lages e São Miguel do Oeste, que deve ter uma extensão de mais de 400 km e investimentos estimados em R$ 2,8 bilhões. Além da continuidade da duplicação da BR-470, entre Indaial e Campos Novos, que deve receber investimentos na ordem de R$ 4 bilhões.

NOVA FERROESTE

            O coordenador do Plano Estadual Ferroviário do Governo do Paraná, Luiz Henrique Fagundes, apresentou o projeto logístico sul da Nova Ferroeste, que prevê conectar Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. A iniciativa tem por objetivo reduzir o Custo Brasil em cerca de 30%, otimizando a logística e trazendo mais eficiência para toda a cadeia produtiva.

            Serão 1.567 km de trilhos que vão passar por 66 municípios, um deles é Chapecó. “Hoje, Santa Catarina tem um déficit de grãos na ordem de 5 a 7 milhões de toneladas por ano entre milho e soja. Mais de 60% vêm da região do Mato Grosso do Sul, que está dentro da área de influência da Nova Ferroeste. Em Foz do Iguaçu (PR), a ferrovia que se conecta com Cascavel, atrairá também carregamentos de grãos cultivados na Argentina e no Paraguai. A Ferroeste tem DNA paranaense, mas é uma solução nacional e de integração regional”, salientou Fagundes.

            O assessor de Logística da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação do Mato Grosso do Sul, Lucio Lagemann, explanou sobre “A Ampliação da Conexão Ferroviária pelo Mato Grosso do Sul”. Citou que o estado possui duas ferrovias: a Malha Norte, com 350 km e faz escoamento de boa parte da produção do nordeste do estado, e a Malha Oeste, que tem 1.300 km, mas está parada e, agora, foi incluída no PAC do Governo Federal.

            De acordo com Lagemann, o projeto da Nova Ferroeste é fundamental para o Mato Grosso do Sul, pois tem potencial de transporte de 10 milhões de toneladas. “Não tem outro meio de escoar produção a grandes distâncias que não seja por ferrovias. Quando fizemos o projeto percebemos que, além da redução do curso logístico, haverá crescimento econômico e social, com geração de emprego e renda para o estado. A ferrovia deixa de ser um projeto só de ferrovia e passa a ser indutor econômico e de segurança para os próximos anos”, sublinhou, ao acrescentar que as leis de autorizações ferroviárias federais e estaduais permitirão a construção de até 700 km de novos ramais que poderão gerar mais de R$ 8,5 bilhões em novos investimentos até 2030.

            FERROVIA CATARINENSE

O governo catarinense tem interesse em viabilizar projetos ferroviários com o objetivo de amenizar os gargalos logísticos do Estado. Segundo o secretário estadual de Portos, Aeroportos e Ferrovias, Beto Martins, em Santa Catarina estão em execução importantes projetos ferroviários. O principal deles é a ligação entre Navegantes e Correia Pinto, com extensão até Chapecó. Um corredor ferroviário direto entre o oeste e os Portos de Navegantes e Itajaí, é fundamental para contribuir com o escoamento da produção do agronegócio.

A intenção é envolver entidades empresariais e a sociedade para atrair investidores. “Esse projeto já está em fase bastante avançada e no ano que vem nós temos condições de ter ele pronto, inclusive com orçamento, com estudo de viabilidade. É um projeto que está sendo feito de forma muito robusta, que apresentará dados e oportunizará a busca por investimentos, que podem vir, inclusive, da iniciativa privada”, destacou.

            MOVIMENTO PRÓ-FERROVIAS

As entidades que integram o Movimento Pró-Ferrovias patrocinaram o estudo de viabilidade econômica, técnica e ambiental para demonstrar as condições da construção de um ramal da Nova Ferroeste de Cascavel (PR) a Chapecó (SC). O projeto prevê a ligação de Maracaju, no Mato Grosso do Sul, ao Porto de Paranaguá, no Paraná, com um ramal a Foz do Iguaçu (PR). O Rio Grande do Sul aderiu ao movimento para que o projeto tenha também uma extensão do ramal até Passo Fundo e portos gaúchos.

            Ao término do Simpósio, foi entregue aos representantes dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Mato Grosso do Sul e de Santa Catarina a Carta Movimento Pró-Ferrovias, solicitando o apoio e o compromisso de auxiliar na viabilização do projeto, bem como estimular e fomentar todas as conexões possíveis através de ferrovias que impactem essas regiões.

            O documento explica que “ampliar os modais logísticos brasileiros, com olhar integrador e desenvolvimentista sobre o futuro que se quer, é o propósito de um grupo de entidades catarinenses denominado Pró-Ferrovias, que propõe um transporte ferroviário integrado, com o objetivo de garantir e viabilizar a continuidade de uma das maiores cadeias produtivas do Brasil – o agronegócio, entre outros setores ameaçados pela falta de competitividade com outros mercados”.

            O presidente da ACIC, Lenoir Broch, enfatizou que o objetivo das entidades empresariais é mostrar para o país a importância e a necessidade de ter mais um modal logístico. “No evento, apresentamos os porquês, as vantagens de ter as novas ferrovias. É uma necessidade”, finalizou.

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